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Desabafar para conectar

Hoje resolvi vir contar um pouco de como as coisas estão por aqui em meio a esta loucura que o coronavírus gerou. Assim, fique a vontade para compartilhar comigo sua dor, alegria, descoberta ou loucuras neste período sem precedentes que compartilhamos.

Estamos vivendo dias que nunca imaginamos. Ou melhor, imaginamos! Mas, nunca pensamos que chegariam a acontecer. 

Bill Gates falou em sua tedTalk em 2015 que nosso maior desafio dos próximos anos não seria uma guerra, mas um vírus… Possivelmente, quem assistiu entendeu o conteúdo como figura de linguagem e nunca imaginou que tão pouco tempo depois isto se tornaria verdade.

Uma amiga minha aqui, americana, já estava abastecendo a casa no começo de fevereiro. E, eu tento lembrar quando nos vimos pela última vez pois ela e sua família começaram a quarentena muito tempo antes de nós.

Acho que nosso último encontro pessoal foi na primeira semana de fevereiro. E, ela me dizia, Lici… A questão não é se vai chegar aqui, é quando e o problema não é apenas a doença chegar aqui, é o quanto sofreremos com falta de comida, falta de segurança e como nossas cabeças reagirão a este tempo que está por vir. Tudo o que ela comentou começa a acontecer, pouco a pouco…

Quando a ouvi pela primeira vez juro que não ri para não perder a amiga!! Pensei comigo, “americano é tudo louco e exagerado!”  Na semana seguinte ela já estava comprando máscaras e para minha surpresa, logo em seguida, eu também! Dia 21 de fevereiro comprei um pacote com 20 n95. A entrega que era para dia 23 atrasou e chegou apenas no começo de março. Amazon costuma entregar aqui em no máximo 3 dias, o normal é 48 horas e muito comum chegar no dia seguinte. Este atraso foi o primeiro sinal de que não era mais um pesadelo tão distante.

Dia 28 de março fui visitar uma amiga aqui. Ela estava ainda em “lala land” e não tinha pensado em nada a respeito do vírus além de que “estava sério na China”. Quando começamos a falar ela deve ter pensado; “a Lici tá louca e exagerando“. Após nossa conversa ela foi buscar máscaras na Amazon, com o mesmo link das que eu havia comprado por $2.85 a unidade. E, adivinha só? Não tinha mais NADA! Achamos a mesma máscara em outro fornecedor e cada pacote de 20 unidades estava custando $599! 😱

De certa forma o pânico bateu!

Mais pessoas já tinham percebido o perigo eminente, ou seja… eu já não era uma paranoica. Ou, pelo menos já não tinha apenas a companhia da minha amiga nesta paranoia. Entretanto, acho que somos apenas nós duas do grupo que eu conheço que compraram também “hazard suits”. Esta entrega já foi mais complicada; dos meus dois pedidos, apenas um chegou e o segundo foi cancelado pela Amazon. Ela, ainda teve sorte e recebeus os dois. Fizemos um acordo que rezaríamos para não usá-las e que elas seriam nossas fantasias de Halloween. A cada dia que passa tenho menos certeza sobre isso… Acho que terei que buscar outra opção de fantasia. 

No final de fevereiro eu já tinha certeza que havia me contaminado. Porém, não com Coronavirus, mas com o vírus do medo!

Medo de que tudo o que temíamos virasse realidade. Porém, em mim bateu um medo diferente, o medo por sermos apenas nós 3 aqui. O medo de algum de nós ficar doente e não poder cuidar do outro por que a prioridade é cuidar da Olivia. Aqui em casa somos tipo os 3 mosqueteiros, um por todos e todos por um.

Dia 13 de março… (ah não vou esquecer esta sexta-feira 13!), depois de já estar no aguardo de algum comunicado da escola da Olivia, veio o cancelamento das aulas por uma semana… “êta” semaninha longa! Parece que esta semana ainda não terminou, ela virou quarentena e agora, já é certo que vai até o final de abril. Porém, muitos já entenderam que na verdade não sairemos desta antes de junho!

Desde então tem sido tipo o filme “Feitiço do Tempo” (Não viu? Vale ver!), todos os dias são iguais! Pelo menos algo segue igual, por que nós… 

Nós já não somos mais os mesmos!

Não sei o quanto você já parou para pensar sobre tudo o que está acontecendo e sobre as dificuldades e problemas que a doença pode trazer na vida de quem se contamina, mas também na vida de quem está saudável. É um efeito dominó, não tem como passar por ele sem algum tremor.

Minha vizinha está com o vírus. Eu tenho medo de abrir a janela! Tenho medo de passar na frente da casa dela. Não por ignorância e achar que o vírus vai me ver e saltar sobre mim, mas é uma sensação de impotência e ao mesmo tempo de responsabilidade tão grande, que parece que preciso ter cuidados redobrados. 

Minha frase lema nesta loucura é “prefiro ser piada pelo exagero de cautela do que virar estatística pela falta dela“. E assim, vamos vivendo!

Buenas… não estou escrevendo para assustar. Também não é para pensarem que pirei ou que estamos mal por aqui. Na verdade, estamos MUITO BEM! Moramos numa casa, o que já era uma benção em tempos normais e agora nos permite ter um pouco de liberdade no meio da “prisão domiciliar“que vivemos.

Eu só queria mesmo um contato mais humano… um bate papo mais verdadeiro. De certa forma, usei vocês para fazer uma retrospectiva destes últimos meses que estão mudando nossas vidas para sempre e um desabafo.

Nunca mais seremos os mesmos. Nunca mais abraçaremos ou sequer apertaremos a mão de alguém com a mesma tranquilidade. Nossas relações serão muito mais pensadas e a noção de importância das coisas também será diferente. Ainda não temos certeza de como será, mas sabemos que não será como era.

Aproveite este tempo para se conectar com as pessoas… descobrir como elas estão… contar como você está. E, se em meio à tempestade você chorar, pense que não está só!

Estamos na Semana Santa, em poucos dias Jesus passará pela maior dor que qualquer homem já passou na história da humanidade. Vamos entregar a Ele nossa dor e sofrimento para que juntos possamos ter uma Páscoa verdadeira, de dentro para fora.

Fique em Deus,

sempre com essência…

Lici 🌿

PS: Cuide-se!

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